Acontece que sempre que aqui a Cleo faz planos, calham sempre nas melhores alturas.
Chegamos no dia em que o incêndio deflagrou e a partir daí todo o cenário belo da serra do Caramulo se tornou um inferno. As chamas eram enormes, o ar irrespirável e repleto de fumo, o vento arrastava para todo o lado cinzas e folhas negras ou ainda a arder que preencheram estradas, passeios, carros, varandas.

Começaram a chegar bombeiros de todo o lado, de Queluz, da Amadora, do Porto, da Nazaré... Uma jovem acabou por perder a vida, outro ficou gravemente ferido, num fogo que ateimava em não cessar. Cruzava-me com alguns bombeiros na rua (estariam possivelmente a ter um pouco do mais que merecido descanso) e lá ouvi conversas em que alguns nem dormir durante o pouco tempo que tinham conseguiam. Muitas das viaturas já mostravam que a idade também lhes começava a pesar e aquelas pessoas com o pouco descanso e os equipamentos velhos lá subiam encosta mais uma vez, a arriscarem a própria vida pelas vidas dos outros. Se há pessoas que admiro são sem dúvida os bombeiros, pelo trabalho e dedicação deles e sinto uma profunda tristeza quando um deles se fere ou até mesmo perde a vida só para não deixarem civis em perigo.
O Governo que temos devia de apoiar muito mais as corporações e as pessoas egoístas, que muitas vezes se queixam que os bombeiros se atrasam para as ajudar, deviam de pensar duas vezes antes de abrirem a boca. Tudo o que presenciei só serviu para aumentar ainda mais a consideração que tenho por este tipo de pessoas e que me fazem crer que neste país ainda temos muitos heróis.
Felizmente o fogo por aqui já acabou e muitos dos bombeiros já foram embora também. Agora resta a imensa negrura na serra, repleta de cinzas.